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  NEGROS EM SANTANA Clerisvaldo B. Chagas, 12 de dezembro de 2025 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3329   Uma panela d...

 

NEGROS EM SANTANA

Clerisvaldo B. Chagas, 12 de dezembro de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3329

 




Uma panela de alumínio, vertical e comprida, pelas ruas de Santana do Ipanema, vai remando no alto de dois metros do negro Fubica. A meninada já sabe. O brilho do metal anuncia um produto não inflacionado que resiste ao tempo. As crianças, os velhos, os adultos esticam as bochechas com apenas cinquenta centavos de fubá. O jovem, preto, fino e atlético é calado e paciente. Serve a sua eterna clientela o “pão” de cada dia. É a fubá trabalhado com capricho que sai limpo, cheiroso para alegria dos citadinos. Pode ser comido puro, com açúcar ou com leite. Este é um quadro da última década do século XX. O negro Fubica vem de longe. Lá do povoado Jorge, ou melhor, da antiga Tapera do Jorge. Nada existe de especial no quadro urbano apresentado.

Não existe nada de especial para os olhos populares porque a cena é rotina nas ruas ensolaradas de Santana., cidade ladeirosa construída em patamares e colinas. Mas, para os pesquisadores de Negros em Santana, Fubica é protagonista de movimento histórico. Uma cena do Brasil antigo na tela de um pintor francês. É Santana do Ipanema, terminando o milênio com a presença negra e simpática dos seus alforjes históricos.

CHAGAS, Clerisvaldo B. Negros em Santana. Grafpel, Maceió, 2003. Pag.34.

Este livro foi produzido em parceria pelos escritores Clerisvaldo, Marcello Fausto e Pedro Pacífico V. Neto, adaptado do TCC do autores, em curso de especialização de Geo-História do CESMAC, em Santana do Ipanema, AL.

NEGROS EM SANTANA, no texto acima, refere-se ao povoado Tapera do Jorge, comunidade quilombola situada à margem direita do rio Ipanema, no município de Poço das Trincheiras. O negro Fubica apresentado acima, é personagem real com nome trocado propositadamente. E o fubá, iguaria do milho, era muito comum na alimentação, principalmente rural, tanto o fubá quanto o xerém. A formação da comunidade Tapera do Jorge, perdeu-se no tempo e nem a pessoa mais velha do núcleo, soube precisar.  Provavelmente foi formada por negros fugidos do cativeiro.

 

 

 

 

 

  GOLEIRO NATO Clerisvaldo B. Chagas, 10 de dezembro de 2025 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.327 Homenagem a Torquato...

 

GOLEIRO NATO

Clerisvaldo B. Chagas, 10 de dezembro de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.327

Homenagem a Torquato Reis

 



 

Alcancei o auge do Ipanema Atlético Clube. O primeiro goleiro do time da minha lembrança, foi Josa Pinto. Depois ou antes foi Zuza do Senhor Zé V8, o mais famoso e o melhor de todos, quiçá de Alagoas, o Tina. Mas, para substituir o Tina, com a torcida já viciada com aquela barreira, veio o jovem Torquato Reis. E como todos os jogadores trabalhavam em alguma cosa, Torquato era funcionário do DER – Departamento Estadual de Rodagem. Goleiro tranquilo dentro e fora do campo, franzino e modesto. Logo, logo fez a torcida esquecer o Tina. Um grande goleiro. Há mais ou menos uns dez anos, pela primeira vez na vida, falei com Torquato, em sua própria casa, na Travessa Santa Sofia, Bairro Lajeiro Grande, em Santana do Ipanema.

Fui colher seus depoimentos sobre graças alcançadas através do padre Cícero. Muitos anos se passaram e no lançamento do livro, Torquato não compareceu. Soube da sua passagem e fiquei triste, pois eu era um dos seus fãs como goleiraço do Ipanema. Bem que em nossa entrevista senti certo desânimo na saúde do homem, porém, nada indaguei sobre o tema respeitando sua individualidade. Torquato era encarregado de levar água em trator para diversas regiões, nos tempos de estiagens. O trator não oferecia condições ao funcionário e por duas vezes seu condutor teve de recorrer ao padre do Juazeiro diante de aflições com a máquina. Seus milagres estão registrados com os nomes de Trator Bandido e Trator Bandido II, páginas 25 e 26. Na época eu não pensava em tirar foto de depoentes.

Bem, agora só me resta entregar à família do grande goleiro esquecido, o livro que pelo que sei, é a única homenagem ao jogador que eu conheço. Mas, o que dizer aos seus familiares na hora da entrega? Mesmo assim, tenho a subida honra em seguir para o alto bairro do estádio Arnon de Melo, Lajeiro Grande para cumprir o meu dever assumido há anos. Lajeiro Grande é o mesmo bairro onde também fui buscar com o ex-jogador mais querido do Ipanema, atacante, Joãozinho de Zé V8, a foto do elenco do Ipanema que saiu nas páginas do livro O BOI, A BOTA E A BATINA, HISTÓRIA COMPLETA DE SANTANA DO IPANEMA. Também já o encontrei  meio desanimado com o peso da vida. Espero em Deus que Joãozinho, assim como Torquato Reis, esteja no céu nos clube dos heróis.

     SAUDADE...

                                                                      A CUECA DA ALMA Clerisvaldo B. Chagas, 9 de dezembro de 2025 Esc...

 

 

                                                                  A CUECA DA ALMA

Clerisvaldo B. Chagas, 9 de dezembro de 2025

Escritor Símbolo do sertão Alagoano

Crônica: 3327



 

Dona Hermínia da família Rocha, família do coronel Manoel Rodrigues, era quase seu vizinho, no Comércio de Santana do Ipanema. Não tivera sorte com filhos e filhas, pois todos nasceram sem juízo. Diziam que tinha sido uma praga rogada por cigano, mas isso aí já fica em outras conjurações. Conheci os seus filho que estavam em Santana e viviam com ela, Poni, Agissé e Labibe. Havia uma outra filha, mas diziam que essa estava no Rio de Janeiro, não sabemos informar se era sadia ou não. Poni, passava quase o dia todo na Farmácia, vizinha à sua casa, Farmácia de senhor Moreninho. Agissé às vezes fazia algum mandado e Labibe não saía de casa assim como a própria Dona Hermínia que era florista. Mas, de vez em quando, saiam da parte dos filhos alguma coisa engraçada e algumas foram até registradas por outros escritores da terra e outras continuaram sendo repassadas oralmente.

Pois bem, o coronel Lucena, chefe do Batalhão em Santana do Ipanema, para combater os cangaceiros, comprou ou ganhou um balaio de pinhas maduras. Chamou o maluco Agissé, para levar o balaio de pinhas para sua residência. Quando o coronel chegou em casa, sonhando em comer pinhas doces, nada havia encontrado. Encontrando-se outra vez com Agissé, indagou pelas pinha que o mandara levar para casa. Agissé respondeu, batendo no quengo: “Eita, cabecinha! Não é que comi as pinhas do coroné!” Este relato se encontra no livro FRUTA DE PALMA, do escritor santanense, Oscar Silva.  (Oscar era sargento e correspondente do Batalhão).

Pois bem, narrava o contador José Fontes, cuja farmácia do pai era vizinha à casa de dona Hermínia que, alguém se escondera e tentava por medo em Poni. Dizia com voz cavernosa “Poni, você está sem cueca”. Poni olhava e não via ninguém. E depois de repetir a frase várias vezes e não ser achado pelo maluco, Poni perdeu a paciência - se é que tinha alguma - e respondeu a esmo: “Sem cueca está você, alma sem-vergonha!”.